Articulando BR

Blog que trata, pela ordem, de vinho, comida, viagem, cinema, literatura, propaganda e política.

12/07/2010

Um jantar de sábado - ou um samba do crioulo doido, mais um Brenismo na cozinha

O jantar de sábado começou a se delinear duas semanas antes, quando tentamos convidar amigos cujas agendas não batiam de jeito algum. Era um que pegava vôo no começo da noite de domingo, outro que tinha compromisso nos próximos sábados, outro que viajava por seis meses a partir do mês que vem, outro que ia passar alguns dias na praia, outro que estava atolado de trabalho.


O convidado de honra, pois jamais veio em casa e acabou de nos regalar um jantar inesquecível, regado a um Condrieu de pequena produção de se beber de joelhos. É oriental de origem, brasileira de nascimento, francês por adoção, pertencente a uma grande família de notórios cozinheiros. Já os convidados são da casa, velhos amigos, um deles fez faculdade comigo, imaginem só, eu que conclui o curso universitário nos anos 70!


Mas o grande convidado não pode vir e minha promessa culinária para ela - um Grand Bollito Misto ou uma Bourride - decidi adiar para quando ela estivesse presente. Ficou, no entanto, curiosa em saber, o que fiz. Como escrevi para descrever o dito cujo, decidi que valia a pena postar esta conversa. Por isso nem sequer registrei qualquer imagem a respeito...

Todos são gourmant, todos cozinham muito bem, como já pude provar.
O que fazer? Todos gostam muito de comida japonesa, menos a Lia, minha mulher.


O cardápio - 


  • FRIO
  • Taça comunitária de saquê gelado geleificado com agar-agar
  • Tofu fresco com gengibre ralado e cebolinha
  • Salsão cortado em pedaços grandes com guacamole desse abacatinho, o avocado.
  • Espécie de vagem que só encontro numa barraca de verdureiro de feira, miudinha que se acaba em flor. Cozida no vapor dos caldos de mariscos de casca preta que se abriram num refogado de manteiga e alho porró e de polvinhos. Os mariscos foram servidos juntos (Alguém chamou a atenção para o fio que ficou, pois se tivesse tirado a flor, o fio vinha junto. Preferi a flor).
  • Salada-sopa de ostra, com molho de nabo, raiz forte, limão e shoyou
  • Cogumelos italianos e tomatinho sott'olio e pães tostados com alecrim, sal grosso e azeite
  • QUENTE
  • Polvo bem miúdo (dois juntos pesaram 1/2 kg) cozidos na panela de pressão, sem água, sem tempero algum, por alguns pouquíssimos minutos, servidos sobre alho bem picado cru cobertos de coloral de urucum e azeite de oliva ( o alho não é para comer, é para perfurmar já que ele exala seu cheiro quando em contato com o calor, no caso dos polvos quentes despejados sobre ele)
  • batatinhas redondas e alho foram servidos como robata apenas com manteiga e flor de sal
  • pequenos pedaços de mecadiki (atum branco) marinado com missô, saquê e mel
  • camarões grandes cortados ao meio com casca e sem cabeça, temperados com sal e pimenta do reino com um pouquinho de manteiga, servidos com maionese de alho e urucum
  • Linguiça defumada e salsichas cozidos com nabo e sementes de erva doce

  • O vinho era um espumante rosé muito seco, o Bulle Nº1
  • De sobremesa abacaxi e uma crostata da Dulca 
Dito assim, parece que fiz um banquete desmesurado, mas nada pesava mais do que meio quilo, sendo que a Joana e seu marido comeram conosco. As ostras foram gulosamente consumidas por mim e pelo Glauco antes mesmo que alguma outra pessoa se dispusesse a compartilhar (sabia que as mulheres não se interessariam e apenas o Rafa marido da Joana, minha filha, foi prejudica, chegou muito mais tarde)

Dito assim, parece que não houve tema e acho que não houve mesmo.

Tento me defender com o frágil argumento que quis fazer um universo cujo o epicentro era a comida portuguesa, com seu sincretismo ocidente/oriental, como se tudo passasse por lá...A mistura de peixe e carne de porco, o nabo tão japonês e tão português, as linguiças e salsichas tão italianas, francesas, portuguesas, o sott'olio tão italiano, o camarão na manteiga tão ocidental quanto o robata tão oriental...

Sei lá, foi certamente o que alguns chamam de "Brenismo", mas acho que estava tudo muito bom e quem provou gostou!